terça-feira, 8 de julho de 2014

EU SOU O SENHOR DO CASTELO

Eu Sou o Senhor do Castelo
 Os pequenos Arpin & Béhart: Diferenças de classe social determinam o início de um jogo de humilhações

(Je Suis Le Seigneur du Château) 
Direção de Régis Wargnier, 1989
Música de Serguei Prokofiev
Elenco: Régis Arpin, David Béhar, Jean Rochefort, Dominique Blanc.

Pai (Jean Rochefort) e filho de seus 9 anos (Régis Arpin), que ocupam um velho castelo, estreitam mais seus laços frios com a morte da esposa e mãe, mais ligada ao menino. A chegada de uma governanta (Dominique Blanc) com seu filho da mesma idade desencadeia no órfão sentimentos hostis aos novos hóspedes, recaindo a "escolha" no garoto que se presumia um bom companheiro para a sua solidão. Enquanto os pais encetam um romance, o precoce perverso herdeiro transforma seu possível amigo num bode expiatório de seus caprichos autoritários.
  


 
Espionar os pais na intimidade pode ser divertido

Bom filme francês de Régis Wargnier ("Indochina") explora com sabedoria um tema não muito freqüente, o lado sombrio do universo infantil (não víamos isso talvez desde o espanhol "Cría Cuervos...", de Carlos Saura). Insistindo com planos de humilhação e subserviência para com o colega de classe social mais modesta, o herdeiro extravasa suas frustrações e perseguindo-o para onde quer que ele vá, como numa floresta onde se acidenta, parece não prescindir de sua companhia. Uma neurose com conotações homossexuais? Talvez não, ambos são muito jovens e as crises de autoridade do menino são, no fundo, uma brincadeira como a de espionar o casal e incutir no outro a idéia de que sua mãe não presta. Mas há, sim, uma tentativa de vampirização do espírito do colega mais fraco (ou condescendente), mais explícita no pacto de lealdade em que ambos sorvem o sangue de seus mútuos dedinhos cuidadosamente furados. E um duelo de esgrima dos garotos se funde com o orgasmo da mulher que volta ao castelo a pedido do homem solitário, indicação de que o sexo está presente nas duas situações. Um final inesperado e doloroso acentua as qualidades do filme, com excelentes atuações das duas crianças e utilização bastante feliz da música de Prokofiev na trilha.






4 comentários:

  1. Este é um filme francês que me trouxe à lembrança alguns episódios de minha infância. O menino mais dependente e frágil se deixa subjugar à arrogância do pequeno herdeiro tirano.
    Isso poderia ser visto também como a intimidação sofrida por uma criança mais jovem da parte de outra com um pouco mais de idade e experiência. De qualquer modo, o roteiro e a direção souberam observar bem a convivência instável e deformadora dessas duas crianças,
    destinadas a uma amizade normal, mas sujeitas a convenções sociais perversas que as fazem executar papéis de inferioridade ou superioridade respectivamente. Bom filme, com os dois garotos muito bem escolhidos.

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  2. Bom comentário, Anthero, singular por de certo modo o filme ter "mexido" com suas experiências pessoais e você as admitir aqui com franqueza e serenidade.

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  3. Filme que vi na companhia do Anthero e que também gostei. Ele se expressou bem sobre o que o filme nos transmite, a submissão involuntária de quem é mais ingênuo e mais à margem socialmente. Mas nunca vivi nenhuma experiência igual ou parecida. Acho que o filme se presta ainda a outras observações mais obscuras.

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  4. Vi ontem, muito bom ! Perfeito em sua psicologia com reflexos sociais. Os dois garotos são ótimos e "apagam" os adultos, o filme é deles.

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