Direção de G. W. Pabst, 1931
Texto de Bertolt Brecht
Adaptação de Béla Balàsz, Léo Lania & Ladislaus Vajda
Música de Kurt Weill
Foto (p & b) de Fritz A. Wagner
Elenco: Rudolf Forster, Carola Neher, Reinhold Schünzel, Lotte Lenya, Fritz Rasp, Valeska Gert,
Ernst Busch e outros.
Forster (Mackie), Schünzel & Carola Neher: o comissário de polícia entre os noivos na cerimônia.
"A Ópera dos Três Vinténs", de G.W. Pabst ("A Caixa de Pandora") é uma muito bem sucedida versão do espetáculo teatral de Bertolt Brecht, com música do imprescindível parceiro Kurt Weill
(o autor de "September Song", "Speak Low" e outras belezas). Consta que Pabst se surpreendeu com o comentário de Adolf Hitler de que o filme "convinha bastante à desmoralização do inimigo inglês", o que lhe rendeu um certo afeto por parte do Führer, que, não obstante, incluía sem que ele imaginasse o reverso da moeda. De fato, focaliza uma Londres decadente, cheia de miséria, assaltos
e corrupção, tendo um astucioso bandido, Mackie Navalha - o "Mack the Knife" da música - como ponte entre duas camadas sociais, a marginalidade e as autoridades constituídas. Brecht e, por conseguinte, Pabst traçam um perfil cínico e inteligente desses polos extremos, que convergem para acordos escusos entre a polícia e a bandidagem. E Pabst faz bom Cinema, embora oriundo do teatro.
A atriz e cantora Lotte Lenya (aqui ainda Lenja), a assustadora vilã de "Moscou contra 007" muito adiante e mulher de Kurt Weill na vida real, marca no papel secundário da prostituta Jenny, louca de amor pelo indiferente e mulherengo Mackie (muito bem defendido pelo ator Gustav Forster) - e, na verdade, todo o elenco principal atua com competência. Quando Mackie se vê na contingência de fugir para não ser pego, deixa sua mulher (Carola Neher), a filha do "fabricante" de mendigos (Fritz Rasp), cuidando de seus negócios e esta o faz prosperar, comprando um banco e com isso fazendo da
atividade de roubos e assaltos uma coisa superada.
"A Ópera dos Três Vinténs" importa ainda para dimensionar-se o talento de Pabst antes de aceitar as benesses do nazismo, quando perdeu seu prestígio e deixou de ter o controle autoral sobre seus trabalhos antes tão respeitados. Só veio a reerguer-se numa espécie de "mea culpa" em meados dos anos 50 e próximo ao fim de sua carreira, com "O Ato Final" (Der Letze Akt), onde mostrava os podres de Hitler, sobretudo na memorável seqüência da inundação de Varsóvia. Mas já era tarde para
voltar a ser o que era.
Nos anos 80 teve uma adaptação brasileira irregular na "Ópera do Malandro", de Chico Buarque, onde Jenny ("Geni") era um homossexual da periferia ("Joga pedra na Geni/ Joga bosta na Geni/ Maldita Geni !") na antiga Lapa. A comparação só beneficia mais o filme de Pabst, Brecht & Kurt Weill.
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