Toshiro Mifune e Masayuki Mori, notáveis na versão oriental do romance clássico de Dostoiewsky
O IDIOTA (Hakuchi) - Direção de Akira Kurosawa, 1951 - Roteiro de Kurosawa & Eijiro Hanita
- Elenco: Masayuki Mori, Setsuko Hara, Toshiro Mifune, Yoshiko Kuga, Chieko Higashiyama.
Amante dos textos de Shakespeare, Dostoiewsky, Brecht e outros não japoneses, Akira Kurosawa
logrou um grande êxito transportando-os para a tela, mas foi subestimado em seu próprio pais. Em
1951, foi a vez do consagrado romance de Fyodor Dostoiewsky, filmado com surpreendente
fidelidade na essência, ao lado de variações de cunho mais nipônico. Na iminência de ser fuzilado
na Guerra, um homem (Masayuki Mori, em atuação comovente) escapa por milagre, mas adquire
uma grande perturbação psíquica e uma espécie de epilepsia crônica. Isso não impede de vir a
apaixonar-se mais tarde por uma bela concubina (Setsuko Hara) e tentar disputá-la com um amigo
violento e irascível (Toshiro Mifune), seu amante, e conquistar o amor "difícil" de uma prima
ciumenta ((Yoshiko Kuga), ambas o admirando por suas singulares bondade e pureza de coração.
Contudo, a tragédia se instaura quando o bruto mata a desejada companheira.. Um dos filmes de
Kurosawa menos conhecidos do público ocidental (apesar da repercussão de "Rashomon", sua
obra-prima feita um ano antes), "O Idiota" se salienta na vigorosa filmografia do cineasta por sua
dramaticidade mais intimista, sua perfeita construção e pelas esplêndidas performances do seu
muito harmonioso elenco. A extrema generosidade e paixão do protagonista pelos seres humanos
sugere a figura de Jesus, mas o roteiro insere algumas conotações budistas para cor local.
O BARBA-RUIVA (Akahige), Akira Kurosawa, 1965 - Roteiro de Kurosawa e outros - Foto (p & b) de Asakasu Nasai & Takao Saito - Elenco: Yuzo Kayama, Toshiro Mifune, Terumi
Niki, Tsutomo Yamazaki, Reiko Dan, Yoko Naito, Kyoko Kagawa.
Este filme muito longo (185 minutos), com duas partes e até um intervalo, assinalou o fim da
rica parceria de Kurosawa com seu ator favorito, Toshiro Mifune, infelizmente com danos para a
longa amizade. Mifune é aqui um importante médico que cuida de enfermos da população carente
na Tóquio do século 19 em condições precárias. Um jovem recém-formado (Yuzo Kayama), de
boa família e estudos avançados, vai ter na clínica do chamado "Barba Ruiva" a contragosto,
mostrando-se rebelde e inadaptável. A sucessão de casos delicados que acompanha com o médico,
na função de seu assistente, aos poucos o vai transformando e o fazendo reconhecer no "Barba-
Ruiva" um homem e um profissional de exceção. Pesa favoravelmente quanto a isso seu empenho
em curar uma menina (Terumi Niki) de seu abismo mental, causado pelos maus tratos de que é
vítima na casa de uma megera que a emprega. Irônica e maldosamente comparado por americanos
imbecis de um "Plantão Médico" japonês, o filme, com sua narrativa episódica, flashbacks até
dentro de flashbacks, no desenrolar dos diversos casos clínicos, pode não estar à altura de outros
trabalhos maiores de Kurosawa, mas ainda assim apresenta uma visão convincente da infelicidade
da população mais humilde, com algumas passagens tocantes e bons tipos como a menina (que fica
meio encantada pelo jovem médico) e o garotinho ladrão (que tenta salvar a família da miséria). De
qualquer modo, o habitual humanismo de Kurosawa não funciona aqui muito bem. A atriz Kyoko
Kagawa (com Kurosawa em "Ralé") faz o breve e algo artificial papel da "Louva-Deus", a mulher
louca que seduz e apunhala os homens a quem conquista. Bela foto em preto-e-branco.
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