domingo, 15 de março de 2015

"INSPIRAÇÃO TRÁGICA"



(The Two Mrs. Carrolls)     
Direção de Peter Godfrey, 1947
Produção de Mark Hellinger
Roteiro de Thomas Job
Foto (p/b) de Peverell Marley
Música de Franz Waxman

Elenco: Humphrey Bogart, Barbara Stanwyck, Alexis Smith, Pat (Patrick) O'Moore, Ann Carter,Nigel Bruce, Anita (Sharp) Bolster, Isobel Elsom, Barry Bernard.


Bogart & Barbara: a nova Mrs. Carroll receia ter o mesmo destino da primeira.

Reconhecível como um thriller dos anos 40, com uma trama que toma emprestado situações de outros tantos (um psicopata insuspeito, o fantasma de sua primeira mulher numa pintura de sua autoria, a segunda esposa aos poucos desconfiando dele, uma possível nova candidata a substituí-la, um chantagista), "Inspiração Trágica" ainda se impõe como um filme bem cuidado e eficiente. Lembremos que se trata de uma produção de Mark Hellinger, que se especializou em diversos filmes noir ou meramente policiais ("Assassinos", "Brutalidade", "Cidade Nua" e outros) com comprovada competência. E assim temos um belo trabalho fotográfico em preto-e-branco, a música de Franz Waxman, dois intérpretes sabidamente capazes e, surpresa, uma boa chance para um diretor menor como Peter Godfrey, que a aproveita bem. Enquanto se descortina a personalidade doentia do ex-viúvo Mr. Carroll (Humphrey Bogart, sempre melhor como "mau") é quase impossível não ficar atento às inquietações de sua adorável e indefesa nova mulher (Barbara Stanwyck, aqui meiga e amorosa e a grande atriz de sempre), descobrindo as mentiras do marido, sua infidelidade e sobretudo seu passado de homicida, até um confronto final dos mais tensos com ele, que adentra seu quarto trancado, sinistramente pela janela. Alexis Smith, correta, tem um papel de menor relevo se insinuando como a socialite amante secreta e provável substituta de Barbara nos planos de Bogart. Muito boas participações da menina Ann Carter, bem natural na doce filha do primeiro casamento, e da governanta pouco simpática e algo atrevida, mas humana, de Anita Bolster (uma espécie de Agnes Moorehead em alguns de seus papéis). Das desapropriações do roteiro de outros filmes, guarda-se mais a de "Suspeita" (1941), de Alfred Hitchcock - não só nas aflitivas desconfianças da heroína, mas até no recurso do leite (marcante no suspense do mestre) servido pelo marido. Não obstante, é um espetáculo atraente e bem feito de um modo geral.

"Suspeita": o marido e o copo de leite.

 Barbara frente à sombria visão do "Anjo da Morte" pintada pelo esposo.